sobre o pioneirismo colonial no Séc XX - CVRD

Amigos da Vale ou não, olhem que matéria interessante sobre o Eike saiu no site de um amigo juizforano, chamado "Gramsci e o Brasil".
O Lúcio Flávio Pinto, não sei se todos sabem, é um jornalista ótimo de Belém, expulso da mídia de lá por ser muito independente. Por isso criou o seu "Jornal Pessoal", mantido há mais de 20 anos apenas com assinaturas, sem publicidade, para que não tenha o rabo preso. 
Vejam o final surpreendente - e revelador - desta matéria. O Lúcio Flávio é muito sutil e não pode se arriscar a ser processado, até pq já o é aos montes, sendo que nem casa própria possui. Ou mesmo um carro, por causa do estilo corajoso de vida que assumiu.   

Para quem me conheceu há menos tempo, saibam que fui gerente da assessoria de imprensa da Vale no período Eliezer Batista. Mas quem mandava na comunicação externa eram os Mários Rolla, pai e filho, dos quais fui ajudante. Quero dizer que conheço um pouco do início desta história.  

Eike Batista: de menino de ouro a bilionário




Lúcio Flávio Pinto - Maio 2012


Eike Batista. O x da questão. Rio de Janeiro: GMT, 2011. 159p.

Não é comum que o autor de um livro coloque sua foto na capa, mas Eike Batista fez isso em sua estreia no mundo das letras, aos 55 anos, com O x da questão. Ele aparece em fotografia produzida com requintes de modelo. Um sol, símbolo de luminosidade e de ideias, foi colocado ao lado de sua cabeça. Do outro lado, um subtítulo nada modesto: “A trajetória do maior empreendedor do Brasil”.
Espalhadas pelas 159 páginas do livro, em letras graúdas e com amplas margens no papel caro, para render mais do que numa edição comedida e sem tanta repetição na narrativa, 19 fotos; 14 delas são de Eike.
Puro exercício de narcisismo e egolatria? Também. Os responsáveis pela publicação são GMT Editores, do Rio de Janeiro. Mas Eike criou um nome de fantasia para a relação com os editores: a — sugestivamente — Primeira Pessoa. Combina com o conteúdo da obra: fazer recomendações e dar conselhos aos outros empreendedores a partir da vida e dos conhecimentos acumulados pelo autor. Juntamente com os já 30 bilhões de dólares que o credenciaram a ser reconhecido como o sétimo maior bilionário do mundo e o primeiro do ranking nacional.

Desde que lançou o livro, no final do ano passado, Eike incorporou à sua fortuna mais dois bilhões de dólares. O dinheiro veio da venda a investidores árabes de participação societária em um dos seus empreendimentos. Ele arremata os negócios sem sobressaltos nem mistérios. Faz questão de alardear o que ganha.
Esse procedimento, discrepando do padrão seguido por empresários brasileiros, o colocaria em posição singular, pioneira. Ele seria rico por merecimento, fruto do seu trabalho. Não esconde que tem muito dinheiro, que usufrui sem limites do poder que ser rico proporciona, abrindo as portas para todos os caprichos e vaidades. Para um autêntico culto à personalidade.
Esses seriam os sinais exteriores da riqueza, suas superficialidades. Em substância, Eike praticaria uma revolução: a do empresário limpo, trabalhador, criativo, com disposição para correr todos os riscos dos investimentos realizados.

Pagando integralmente seus impostos, remunerando bem os seus empregados, tratando com seriedade seus parceiros e concorrentes, e garantindo os ganhos dos que investem em seus projetos, ele pode apontar com certo desdém para os empreiteiros, que cita nominalmente. Eles são os apêndices do governo. E, ao mesmo tempo, seus predadores. Mas não o empresário de novo tipo, como Eike.

A narrativa da sua trajetória empresarial seria suficiente para confirmar a tese e atestar suas palavras. E isso porque ainda falta o anunciado novo livro, “já em curso”, que vai tratar apenas da sua “vida pessoal, laços familiares, pequenas histórias”, como se esta — escrita por seu amigo jornalista Roberto D’Avila — não fosse suficiente para consumir sua sede de exposição.

Com apenas 20 anos de idade, Eike se transferiu do civilizado circuito europeu entre a Bélgica, a Alemanha e a Suíça, para os calorentos e selvagens garimpos da Amazônia, depois de um estágio no comércio de diamantes no Rio de Janeiro. Tinha tudo para ser um engenheiro sofisticado e elitista, mas vestiu o traje de um Indiana Jones mais cerebral e audacioso (só com essa diferenciação aceita o paralelo, que ele próprio faz) para liderar “uma das maiores sagas empresariais da história recente do Brasil”, segundo a definição do prefaciador do livro.

Meio misterioso e místico, Eike não se atreve a explicar por completo sua sina: “É difícil explicar, mas há alguma coisa que é inata e escapa à genética, à formação familiar, à educação”. Seria uma condição ligada aos deuses, como na mitologia da Grécia antiga? Seriam os deuses astronautas?

Parecia estar escrito assim na estrela luminosa do futuro bilionário, que levou 20 anos para alcançar o seu primeiro bilhão de dólares e, a partir daí, subiu num ritmo vertiginoso para o topo. Agora visa o primeiro lugar, certo de alcançá-lo até 2015. E começou com dinheiro emprestado. Dinheiro que perdeu e nem assim comprometeu a confiança dos que lhe forneceram os recursos, renovados e ampliados de imediato. Com o que Eike implantou “a primeira lavra de ouro mecanizada industrial da Amazônia brasileira”, em Alta Floresta, Mato Grosso, com suporte em informações seguras de assessores canadenses, chamados para mensurar a jazida antes da decisão sobre o risco do investimento. Passou a colocar no bolso um milhão de dólares ao mês.

Já nesse empreendimento estava em boa companhia: da Paranapanema, que ficou com metade das ações e assumiu o compromisso de multiplicar por cinco a produção. Logo, como seria seu estilo, Eike pulou da mina de Novo Planeta para a de Novo Astro, no Amapá, de novo em companhia competente: a do industrial Olavo Monteiro de Carvalho e a do ex-ministro de minas e energia (como Eliezer Batista), Antônio Dias Leite, também uma usina de ideias com um arsenal de informações privilegiadas.
Em seguida, foi para a mina de Paracatu, em Minas Gerais, ao lado da inglesa Rio Tinto, na “maior mina de ouro do Brasil”. Depois, o projeto Minas-Rio, que vendeu para a Anglo American. Eike nunca foi um garimpeiro, mas seu rastro já era mais luminoso do que o do autor do maior bamburro do dito metal precioso.
Quais as credenciais que Eike apresentou aos dois empresários joalheiros, donos dos primeiros US$ 500 mil que ele torrou nos garimpos amazônicos? Ele sugere que pode ter sido a determinação do seu olhar, a impressão deixada a interlocutores de que cumpriria a regra não escrita de que sua palavra era lei, tudo à base da confiança, como nas máfias. Ou seria por ser filho do engenheiro (que se formou, ao contrário do mais famoso e bem-sucedido dos seus sete filhos, que abandonou o curso) Eliezer Batista.
É ele quem assina o prefácio do livro, circunlóquios em torno do tema monocórdio: este é meu filho, filho; e eu sou seu pai, pai. O pai quer nos convencer que o filho se fez por si e, por ter superado o pai, se tornou muito maior do que ele. Certamente é um capitalista de muito maior envergadura e um notável formador de fortuna. Mas qual o peso do pai nessa celebrada trajetória?
É pouco provável que os investidores do mundo das pedras preciosas e do ouro tivessem sido tão compreensivos com o empresário em formação se por trás dele não houvesse um pai como Eliezer Batista. Já então ele era um dos mais respeitados “quadros” da estatal Companhia Vale do Rio Doce (mas não apenas “um cumpridor de ordens”, como diz).
Com sua habilidade para agir nos bastidores e se impor por suas qualidades profissionais, Eliezer conseguiu a façanha de ser ministro de minas e energia de João Goulart e sobreviver na passagem traumática ao regime militar, implantado com o golpe de estado que derrubou o presidente da república.

A CVRD viveu a partir daí uma fase de profundas mudanças. Seus dias de vinculação ao mercado nacional tinham ficado para trás. Ela cobiçava os mercados externos e para atendê-los se expandiu pelo mundo. No exílio, embora dourado, que lhe permitiu dar uma educação de primeira aos filhos, Eliezer montou uma base comercial sólida da estatal na Europa. Mas foi o primeiro e o mais decidido na correção dos rumos na direção do mercado asiático.

Uma das informações mais preciosas do livro é ele que a dá — e num mero prefácio: fez mais de 170 viagens ao Japão. Por conta de excursões tão longas e desgastantes (“talvez fosse mais simples vender enciclopédias em Plutão”), em virtude da diferença de fusos horários, ele sofreu grandes desgastes físicos.

Mas — e esse detalhe ele não comunica aos leitores — se tornou o não residente que por mais vezes esteve no Japão. Uma façanha que merecia ser relatada em minúcias por esse “caixeiro viajante da mineração”. É um dos capítulos mais importantes da história da Amazônia e do Brasil contemporâneo.

Só dessa maneira Eliezer pôde contribuir para que a mais rica província mineral do planeta se tornasse uma possessão cativa (e, portanto, na essência, colonial) do Japão, em primeiro lugar, e, agora, de forma mais ampla, da China. A partir daí, um universo ainda sem dimensão bem definida se ampliou graças às riquezas existentes no subsolo da Amazônia, em especial do Pará.

O filho pode dizer que, a partir desse núcleo comum, alargou a perspectiva para o âmbito da logística e de sua associação à exploração econômica, em função da sua visão em 3D (de 360 graus), a melhor do mercado, que integra todas as atividades: uma visão “holística”. Sua inovação consistiu em “introduzir o conceito de sistemas integrados de energia com a exploração e venda de recursos naturais associadas à geração e comercialização de energia elétrica”.

Ao invés de um grau de acerto de 17 mil probabilidades para uma de sucesso, como na busca do ouro, margens muito menores, de risco às vezes próximo do zero. Ele não queria ser um Bill Gates do ouro, que descobriu, valorizou e vendeu nove minas, mas restrito a esse setor, no qual foi “monofásico durante 20 anos”. Queria mais e mais. Encontraria.

É o caso do pré-sal. Eike foi o maior arrematador de blocos, 21, somando 30 mil quilômetros quadrados, na 9ª Rodada de Licitações promovida pela Agência Nacional do Petróleo, em 2007. Dizem que Eike pegou o filé do petróleo.

Dizem isso aqueles que circulavam pelos mesmos ambientes internos da estatal, onde Eike recrutou, a peso de ouro, os “talentos que vieram da Petrobrás” para a sua empresa petrolífera, a OGX, posta no alto da linhagem de firmas que ele batiza sempre com um xis, na antevisão da multiplicação de dinheiro que irão proporcionar.

A empresa foi constituída apenas quatro meses antes do leilão da ANP se realizar. Nasceu com o DNA do êxito, diriam os empresários. Hoje é “a maior companhia privada brasileira de petróleo e gás em áreas marítimas de exploração”, apregoa o seu chefe. Ela acaba de se tornar dona de uma jazida de gás, no Maranhão, que pode atender a um terço do consumo brasileiro e possui reservas equivalentes à metade dos depósitos de gás da Bolívia, os maiores do continente, podendo atender a uma refinaria Premium, como a que a Petrobrás implanta no Estado. Um espanto! Com direito ao acento de exclamação.

Já a sua OSX, a “Embraer dos mares”, dedicada a construir ou operar equipamentos usados na exploração e produção de petróleo, presta serviços a uma fatia do mercado que precisará de US$ 200 bilhões em equipamentos até 2020, dos quais espera ficar com US$ 30 bilhões. Além de exportar, já que terá o estaleiro mais moderno do mundo.

Tudo em Eike é superlativo. Ele comanda 20 mil pessoas reunidas no grupo EBX. “Crio riquezas do zero e me orgulho disso”, apregoa, lembrando que assinou “um dos cheques de mais alto valor do mundo”, quando pagou US$ 450 milhões (ou R$ 700 milhões) de imposto de renda sobre uma das suas muitas vendas.

Não é bem assim. Quem teve acesso aos estudos de Eliezer Batista sabe que ele já pensava nos investimentos que o filho viria a fazer. E continua a pensar e a formular projetos em sua prancheta mental, projetos que talvez logo recebam o carimbo da marca de Eike Batista, o elemento vivo no esquema de variáveis materiais com as quais Eliezer lida, como um alquimista dos negócios.

Ele próprio não deixa para terceiros a avaliação do que fez, “talvez o maior investimento já realizado no país tanto pela ordem de grandeza das cifras envolvidas como pelo impacto sobre a economia nacional, a visão de longo prazo e o eixo transformador”.

Tem razão em se orgulhar do que concebeu e criou. Talvez nem tanto em relação àquilo que extrapolou suas previsões e cálculos. O Brasil perdeu e perderá muito nesses domínios do além-fronteiras, além-conhecimentos. É onde se movimenta esse menino de ouro que virou um dos maiores bilionários do planeta.

Mas ele seria mesmo único e distinto dos capitalistas criados e mantidos na promiscuidade com o poder público, um Galahad dos novos negócios globais? É o que ele pensa e proclama para todos ouvirem — e reconhecerem. Considera-se no “centro do mundo”, que está “no eixo Brasil-Índia-China”. Surpreendentemente ignora a Rússia. Não por ser jejuno nesse país, um dos seus raros casos de insucesso: contabilizou US$ 30 milhões de prejuízo, ao ser expulso de um empreendimento, ao qual faz referência meteórica, sem maiores informações.

Não foi uma saída programada nem desejada: Eike teve que praticamente fugir, abandonando o negócio “ao perceber que estavam preparados para me retirar a propriedade e o ativo”. Parece ter sido uma experiência traumática, a ponto de levá-lo a excluir a Rússia da fantasiosa sigla dos países emergentes do bloco dos Brics, ao qual a África do Sul se agregou mais recentemente.

Mas não há semelhanças entre a carreira empresarial de Eike ao longo dos 27 anos da redemocratização do Brasil e o surgimento dos “barões ladrões” nos 21 anos que se seguiram ao fim da União Soviética, com sua travessia conturbada para o capitalismo? Sem dúvida alguma esses empresários de “novo tipo” se tornaram milionários ou bilionários à sombra do aparato de Estado, de forma explícita ou mais sutil, e com sua ajuda para abrir caminho às fontes de recursos naturais, as commodities que circulam pelo mundo com seus preços valorizados e quantidades gigantescas.

Eike/Eliezer Batista não constituem exceção nesse enredo internacional. O que distingue os dois grupos de empreendedores são os países que lhes servem de fundo. Ou de fundos.
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Lúcio Flávio Pinto Jornal Pessoal, O jornalismo na linha de tiro  Contra o poder. 20 anos de Jornal Pessoal: uma paixão amazônica  Memória do cotidianoA agressão (imprensa e violência na Amazônia)



Manifesto dos Atingidos Pela Rede Globo *




Manifesto dos Atingidos Pela Rede Globo *

Apenas 6 famílias estão no comando dos principais meios de comunicação no Brasil. Civita, Marinho, Frias, Saad, Abravanel e Sirotsky são os clãs que comandam o oligopólio midiático no País.

Um seleto grupo composto pelas Organizações Globo, Grupo Folha, Grupo Estado, Rede Brasil Sul (RBS) e Companhia Brasileira Multimídia (CBM) é o responsável pela concentração de maior parte de toda a circulação diária de notícias impressas em todo o Brasil, algo em torno de 56% de tudo o que é veiculado de informação impressa e que circula no território nacional.

Não obstante, apenas três estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, são as sedes dessas empresas de mídia.

Uma característica que revela a “vocação” concentradora da estrutura dos meios de comunicação no Brasil é a atuação e a influência marcante de um único conglomerado midiático em âmbito nacional e internacional: a Rede Globo, de propriedade da família Marinho.

O conglomerado é líder com 263 veículos próprios ou afiliados – mais que SBT e Record juntos, em segundo e terceiro lugar, respectivamente.

A Globo detém ainda 33,4% do total de veículos ligados às redes privadas nacionais de TV e controla o maior número de veículos em todas as modalidades de mídia: 61,5% de TVs UHF; 40,7% dos jornais; 31,8% de TVs VHF; 30,1% das emissoras de rádio AM e 28% das FM.

A maioria dos principais grupos regionais de mídia são afiliados da Globo e seu conglomerado é o único presente em todos os tipos de veículos de comunicação. Até 2007, sem contar as afiliadas, a Rede Globo possuía 20 emissoras próprias, apesar de a lei brasileira permitir apenas 10 concessões por operadora.

Naturalmente, a Rede Globo de Televisão abocanha mais da metade do mercado publicitário brasileiro destinado ao meio televisivo, ou seja, quase 80% do total destinado às emissoras de TV aberta, além de liderar os índices de audiência em praticamente todos os horários.

Organizações Globo é o termo usado para denominar o conglomerado de várias empresas brasileiras concentradas especificamente na área de mídia e comunicação. É o maior conglomerado de mídia da América Latina e o terceiro maior do mundo, ficando atrás apenas da The Walt Disney Company e da CBS Corporation.

Criada em 1965 em pleno Regime Militar, cinco anos após entrar no ar, já em 1970, era líder absoluta de audiência. À época, estavam também no ar as Redes Excelsior – que saiu do ar em 1970 – a Tupi – que sairia do ar em 1980 – e a Record e a Cultura, que como a Rede Globo estão no ar até hoje.

A emissora dos Marinho conquistou o espaço deixado pela Excelsior, além de ter recebido a quantia de US$ 5 milhões do Grupo Time Life, para a compra de equipamentos novos e modernos para a época.

Em seus 45 anos de existência, a Rede Globo especializou-se em fazer telenovelas, que são vendidas atualmente para mais de trinta países. Produzidas em vários gêneros, comédias, românticas, atuais e de época, ambientadas no Rio de Janeiro, em São Paulo, no campo, no litoral, as novelas da Globo produzem de imediato fenômenos de "massificação do comportamento", que podem ser verificados de maneira empírica e simples sem necessidades de um protocolo ou estudo experimental.

Alguns críticos também apontam as telenovelas como uma das causas da derrocada do cinema brasileiro desde a década de 1980.

De acordo com o livro “Muito Além do Jardim Botânico, de Carlos Eduardo Lins da Silva”, um dos grandes responsáveis pela liderança de audiência da Globo foi Walter Clark, que entre outras coisas, criou o chamado ‘sanduíche’ na programação, onde entre duas novelas deveria haver um jornal, neste caso o Jornal Nacional, que entrou no ar em 1º de setembro de 1969. Para garantir o Ibope, a novela das 19h tinha um estilo bem leve, quase cômico, e o das 20h, dramático. Estratégia perfeita e que se mantém até hoje.

Para Clark, não bastava ser líder de audiência. Era preciso criar o hábito de assistir a Globo. Coincidentemente, o JN estreou no período de maior endurecimento do Regime Militar, em 1969. O Ministério das Comunicações foi criado neste mesmo ano. O que interessava à ditadura era a chamada “Integração Nacional”. O JN foi o primeiro transmitido em rede. O tom formal e frio, com informações que interessavam diretamente ao regime, deu ao jornal o apelido de “porta-voz da ditadura”.

Uma declaração do então presidente Emílio Garrastazu Médici – o mais autoritário artífice do regime ditatorial sobre a sociedade – deu o tom do que era o JN: “Sinto-me feliz, todas as noites, quando ligo a TV para ler o jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos, em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranqüilizante, após um dia de trabalho.”

Em comprovada associação com a criminalidade da ditadura, a Globo também bancou falsas notícias dos assassinatos de Vladimir Herzog, Fiel Filho, Stuart Angel e centenas de outros opositores ao regime, sempre tendo como verdade os laudos criminosamente falsos do médico parceiro da ditadura, Harry Shibata.

Em 1993, Simon Hartog, documentarista britânico, através do Channel 4, emissora pública do Reino Unido, realiza o filme Beyond Citizen Kane (Muito Além do Cidadão Kane), focado na análise da relação da mídia e o poder no Brasil.

O documentário acompanha o envolvimento e o apoio da Globo à ditadura militar brasileira, sua parceria com o grupo americano Time Warner (naquela época, Time-Life), algumas práticas vistas como manipulação feitas pela emissora de Marinho (incluindo um suposto auxílio dado a uma tentativa de fraude nas eleições fluminenses de 1982 para impedir a vitória de Leonel Brizola, a cobertura tendenciosa do movimento das Diretas-Já, em 1984, quando a emissora noticiou um importante comício como um evento de comemoração ao aniversário de São Paulo, e a edição, para o Jornal Nacional, do debate do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras de 1989, de modo a favorecer o candidato Fernando Collor de Mello (frente a Luís Inácio Lula da Silva), além de uma controversa negociação envolvendo ações da NEC Corporation e contratos governamentais à época em que José Sarney era presidente da República.

A primeira exibição pública do filme no Brasil ocorreria no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), em março de 1994. Um dia antes da estréia, a polícia militar recebeu uma ordem judicial para apreender cartazes e a cópia do filme, ameaçando, em caso de desobediência, multar a administração do MAM-RJ. O secretário de cultura acabou sendo despedido três dias depois.

Até hoje uma decisão judicial proíbe a exibição de Beyond Citizen Kane no Brasil.

O último episódio de ilegalidade cometido pela Rede Globo em conluio com os poderes constituídos na política brasileira veio a tona em janeiro de 2011 quando um deslizamento de terra de grandes proporções deixou mais de 700 mortos na Região Serrana do Rio de Janeiro.

Enquanto os veículos da Rede Globo denunciavam o descaso do governo federal e cobrava mais investimentos para a prevenção de enchentes, a imprensa alternativa tornava público que no dia 20 de outubro de 2010 o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, desviou R$ 24 milhões do FECAM (Fundo Estadual de Conservação do Meio Ambiente) com a finalidade de construção pela Fundação Roberto Marinho do Museu do Amanhã no Cais do Porto no Rio de Janeiro.

Diante dos fatos e de inúmeras outras ocorrências de irregularidades cometidas pela Rede Globo, que aviltam a democracia e mancham a história do próprio jornalismo, ficam as perguntas: é justa a renovação da concessão pública da poderosa TV Globo? Ela ajuda a formar ou a deformar a sociedade brasileira? Ela informa ou manipula as informações? Ela atende os preceitos constitucionais que proíbe o monopólio da mídia e exige que a comunicação social promova a produção da cultura nacional e regional e a difusão da produção independente e que tenha finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas?

É hora de a sociedade brasileira assumir definitivamente uma postura crítica e transformadora da situação em que se encontram os meios de comunicação no País.

Para tanto exigimos:

– A retratação pública da Rede Globo de Televisão diante da sociedade brasileira e principalmente da população do Rio de Janeiro, com conteúdo a ser inserido na grade de programação da emissora com alcance em todo o território nacional.

– Auditoria independente a ser realizada pelo MPF e sociedade civil que reveja as concessões a operadoras que já possuam o limite de concessões permitidas por lei.

– Fim do monopólio da Globo sobre o setor da TV Paga.

– Obrigatoriedade de programas regionais e de produção independente em pelo menos 1/3 da programação diária das emissoras de TV que operam no território Nacional.

– Maior controle da sociedade sobre programas de Reality Shows com conteúdos eróticos, consumistas e de azar, como o Big Brother Brasil e similares que, uma vez produzidos, devem ser exibidos apenas em horários de baixa audiência durante a madrugada.

– A criação de um imposto de contrapartida a ser pago pela Rede Globo e demais Emissoras que operam no Brasil. Que a arrecadação por este mecanismo seja revertida em programas de apoio a iniciativas alternativas e populares de comunicação como as rádios e TVs livres e comunitárias e também na construção de cidades cenográficas em vilas e favelas do Brasil em caráter de compensação de danos e transferência direta de renda aos setores mais explorados quanto marginalizados pelas atuações das redes de comunicação de massa no Brasil.

* Este manifesto não tem autoria. Foi produzido a partir de colagens de textos buscados na internet. Seu conteúdo é livre e está aberto para acréscimos e considerações. Também não carece de assinaturas.

Cardapio del Tercer Mundo

¿Por qué dejaron de comer carne los argentinos?

Veronica Smink

Veronica Smink

BBC Mundo, Cono Sur

ALgo está cambiando en la mesa de los argentinos. Por años los habitantes de ese país sudamericano tuvieron la particularidad de ser los que más carne comían en el mundo. Pero ahora las cosas cambiaron: en 2010 el consumo de carne vacuna en el país fue el más bajo de la última década.

Según la Cámara de la Industria y Comercio de Carne de la República Argentina (Ciccra), los argentinos pasaron de consumir unos 68 kilos de carne por habitante en 2009 a 56,7 kilos este año.

Así, por primera vez en más de un siglo, fueron superados por sus vecinos uruguayos como los mayores consumidores de carne bovina del planeta (aunque ambas naciones rioplatenses aún superan ampliamente el promedio de consumo en los otros países).

La mayoría de los observadores coincide en el motivo principal por el que los argentinos están dejando de lado sus famosos "bifes": el alto precio del alimento.

Las políticas del gobierno desincentivaron la producción ganadera y ampliaron los márgenes de beneficio para la producción de soja

Mauricio Claverí, economista de la consultora Abeceb.com

Se estima que el valor de la carne vacuna aumentó más de un 60% en el último año.

Irónicamente, la Ciccra adjudica ese aumento a las políticas de control de precios aplicadas por el gobierno de Cristina Fernández para garantizar el consumo interno del popular alimento.

Las presiones ejercidas por la Secretaría de Comercio Interior para mantener bajos los precios de la carne, que incluyen trabas a la exportación, llevaron a una fuerte caída en la oferta de hacienda, lo cual eventualmente generó un alza de precios.

"Las políticas del gobierno desincentivaron la producción ganadera y ampliaron los márgenes de beneficio para la producción de soja", le dijo a BBC Mundo el economista Mauricio Claverí de la consultora Abeceb.com.

Más soja, menos carne

Soja

Muchos productores se han volcado en cultivos más redituables.

La caída en la oferta de hacienda se debe a una merma en las cabezas de ganado, generado por la decisión de muchos productores de volcarse a cultivos más redituables y agravado por una de las peores sequías de las últimas décadas, que golpeó a la región en 2009.

Según el Servicio Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria (Senasa), entre 2008 y 2010 hubo una disminución de más de 3,7 millones cabezas de ganado.

En tanto, la producción de soja alcanzó este año una cosecha récord de 55 millones de toneladas.

El ex secretario de Agricultura, Carlos Cheppi, estimó que "en los últimos diez años la agricultura le quitó entre 12 y 14 millones de hectáreas a la ganadería".

Organismos que agrupan a los ganaderos advirtieron que la caída en su producción podría llevar a que Argentina eventualmente tenga que importar carne para abastecer su mercado interno.

clic Lea: Argentina: ¿cae un gigante agropecuario?

"En 2010 se empezará a notar (la escasez), pero 2011 será peor", aseguró hace un año el presidente de la Sociedad Rural Argentina, Hugo Biolcati.

Cambio de hábito

El alza en los precios de la carne está llevando a muchos argentinos a reemplazar su tradicional bife por otros alimentos.

Un estudio reciente de la consultora Claves estimó que el consumo de pastas aumentará este año entre un 4% y un 5%.

Cristina Fernández, presidenta de Paraguay

Fernández recomendó a los argentinos comer otros productos en lugar de carne.

En tanto, ya sea por cuestiones monetarias o de salud, también ha aumentado la oferta de sustitutos de la carne hechos a base de soja.

Si bien Argentina es uno de los principales productores de la oleaginosa, hasta ahora menos del 2% de la producción era consumida en el país.

Sin embargo, en los supermercados argentinos es cada vez más común ver productos hechos a base de este producto, en particular milanesas y hamburguesas.

La presidenta Fernández instó recientemente a que el país aumente su fabricación de estos productos, para así "agregarle valor a la soja".

La mandataria también recomendó a los argentinos comer otros productos en lugar de carne, como el pollo, que es más sano, y el cerdo, que –según aseguró- tiene propiedades afrodisíacas.

Adentro y afuera

La caída en la producción de carne no sólo afecta los hábitos alimenticios de los argentinos. También cayó la cantidad de carne que el país vende en el exterior.

Según Ciccra, las exportaciones de carne se redujeron un 41,9% en volumen y un 20,9% en valor en el último año.

Argentina, que en la década de los años 70 era la principal exportadora de carne vacuna del mundo, en 2010 ni siquiera pudo cumplir con la llamada cuota Hilton, como se conoce a los cortes de mayor valor que ingresan a la Unión Europea con bajos aranceles de importación.

En tanto, la Ciccra advirtió que la menor producción también está poniendo en riesgo la estabilidad laboral del sector, ya que unas 10.000 personas podrían perder su empleo si la caída continúa.


Pulbicado em: http://www.bbc.co.uk/mundo/economia/2010/08/100819_0131_carne_argentina_consumo_jg.shtml

A luta pelo controle da produção cultural é também política

http://www.mst.org.br/mst/home.php
14/11/2008

“A luta contra o latifúndio não está separada da luta pelo controle da produção cultural”, afirmou o professor de Historia da Arte da Universidade de São Paulo, Francisco Alambert, durante a mesa de
debate: “A arte como instrumento nos processos revolucionários”, da Semana Brasileira de Cultura e Reforma Agrária, que acontece em Belém do Pará. O evento, organizado pelo MST, vai até 16/11.

Para o professor, “tirar os séculos de ideologia que nos foram inculcados pela industria cultural é uma luta política. Para isso, é fundamental que os meios de produção cultural sejam socializados e que os trabalhadores construam uma arte que responda aos interesses coletivos e não a caprichos individuais.”

Alambert resgatou algumas experiências da luta travada pelas revoluções socialistas no campo da cultura. “Os grandes processos revolucionários do século XX entenderam que a luta revolucionaria deve estar em todos os lugares ao mesmo tempo, inclusive no terreno das artes, da cultura e da produção simbólica.”

O debate sobre o que é e como produzir uma cultura revolucionaria e uma comunicação contra-hegemônica é um dos centros das discussões da Semana de Cultura do MST no Pará, e é um debate que vem sendo travado há alguns anos pelos Coletivos de Cultura e de Comunicação do MST.

Para Rafael Villas-Bôas, do Coletivo Nacional de Cultura do MST, o Movimento Sem Terra já entendeu que não basta ter acesso a produção cultural e à comunicação. “Nós aprendemos a criticar a industria cultural, mas também estamos aprendendo a tomar providencias contra
ela, no sentido de criar um poder contra-hegemônico”. Rafael lembrou as experiências das noites culturais do V Congresso do MST, realizado em Brasilia, em junho do ano passado, quando não havia apenas um grande palco, reproduzindo a lógica do espetáculo da industria cultural, mas sim vários pequenos palcos onde artistas populares, acampados e assentados da Reforma Agrária dividiam o espaço com artistas profissionais.

Segundo Rafael, o MST tem avançado na estética das suas produções culturais a partir do momento que essas produções assumiram seu papel na luta de classes. “A produção cultural deve estar ligada à estratégia política do MST. Nesse sentido, todo artista do Movimento
deve ser um militante e todo militante pode ser um artista.”

E a cultura popular, pode ser considerada cultura revolucionaria ou contra-hegemônica? Para o professor Alambert, não necessariamente. “O nosso mundo, a nossa pátria, é a nossa classe. Portanto o que nos interessa é uma cultura de classe, independente de onde ela é produzida. Claro que a cultura popular é importante, mas ela não é necessariamente uma cultura de classe, e nem toda cultura popular deve ser preservada e cultuada.”

A Semana de Cultura Brasileira e Reforma Agrária está acontecendo no Centro Cultural Tancredo Neves – CENTUR, em Belém do Pará, e vai até dia 16 de novembro. Além dos debates que acontecem todas as manhãs e das oficinas práticas realizadas na parte da tarde, as noites da
Semana de Cultura do MST são animadas por artistas populares e da Reforma Agrária, com apresentações musicais, teatrais, recitais de poesia e saraus.

Comunicar a Cidade Livre

A construção de espaços autônomos para livre comunicação da cidade é desafio cujos resultados estarão sempre condicionados às próprias experiências cotidianas do ambiente urbano, nas suas mais variadas dinâmicas. Uma das perspectivas mais vivas e abertas da dinâmica comunicativa urbana contemporânea é a que reivindica e participa da cidade como uma das mais generosas invenções do humano, como espaço de realização da liberdade e dos mais elevados anseios democráticos. Nos sentimentos do filósofo João Antônio de Paula, reivindicar a cidade significa reconhecer nela o próprio lugar da superação humana, diante das desigualdades, das injustiças sociais, da insegurança e da servidão involuntária do espírito moderno à corrupção e à perplexidade da política.

Um momento atualmente explícito de reivindicação da cidade e, conseqüentemente, de construção de uma nova comunicabilidade dos espaços urbanos, acontece hoje em Belo Horizonte na ordenação da chamada Reforma Predial Urbana, uma prática emergente de mobilização social para construção permanente da liberdade e da democracia nos espaços vazios da capital mineira.

Com um déficit habitacional calculado em torno de 55.000 moradias, Belo Horizonte apresenta um dos maiores contrastes habitacionais do Brasil, ao acumular em espaços vazios mais de 70.000 mil imóveis abandonados, em condições irregulares por não cumprirem suas funções sociais, o que deslegitima portanto suas propriedades. É diante dessa conjuntura escandalosa para os poderes públicos que as redes de mobilização por uma outra cidade se organizam. Fato ocorrido na madrugada do último dia 7 de setembro, quando 50 famílias de sem-teto ocuparam o edifício do antigo Hospital Cardiocentro, situado na Avenida Antonio Carlos, próximo à UFMG. Segundo nos informam os próprios agentes sociais mobilizados, entre os objetivos da ocupação João de Barro II está denunciar a situação das milhares de famílias em Belo Horizonte que precisam de moradia, muitas dessas famílias que amargam mais de 10 anos de espera na fila do precário programa habitacional da prefeitura.

De acordo com dados levantados pela frente de Moradia das Brigas Populares, existem atualmente 13.000 famílias na fila de espera por moradia e o programa da prefeitura tem capacidade de atender apenas 300 famílias por ano, o que significa para a última família cadastrada uma espera que pode chegar a mais de 40 anos. Se os dados oficiais da própria prefeitura apontam para um déficit habitacional de 55.000 famílias, o novo cálculo eleva este tempo de espera para mais de 180 anos.

É diante dessa situação que vários movimentos por moradia se organizam para cobrar do Estado políticas habitacionais que atendam com urgência as demandas por moradia das famílias de baixa renda. É diante deste quadro de incomunicabilidade dos espaços urbanos e das graves omissões por parte do poderes públicos, municipal, estadual e federal, que se torna necessária a intervenção ativa da Radiola Livre na mobilização da comunidade universitária, para que esta participe junto aos movimentos populares em suas reivindicações por uma cidade democrática, virtuosamente livre e humanizada.

Convocamos a todos ao exercício da liberdade, para intervir junto aos poderes públicos instituídos, denunciando francamente suas deficiências, exigindo do Estado a revisão de seus próprios meios e finalidades. Para o quê é preciso reordenar políticas públicas que recoloquem o cidadão no centro dos interesses, de forma que os espaços vazios da cidade possam ser repartilhados e os valores da habitação reconhecidos como direitos de todos.

Neimar Barroso é documentarista e programador

Programa Platéiade: Observatório do Caos

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