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14/11/2008
“A luta contra o latifúndio não está separada da luta pelo controle da produção cultural”, afirmou o professor de Historia da Arte da Universidade de São Paulo, Francisco Alambert, durante a mesa de
debate: “A arte como instrumento nos processos revolucionários”, da Semana Brasileira de Cultura e Reforma Agrária, que acontece em Belém do Pará. O evento, organizado pelo MST, vai até 16/11.
Para o professor, “tirar os séculos de ideologia que nos foram inculcados pela industria cultural é uma luta política. Para isso, é fundamental que os meios de produção cultural sejam socializados e que os trabalhadores construam uma arte que responda aos interesses coletivos e não a caprichos individuais.”
Alambert resgatou algumas experiências da luta travada pelas revoluções socialistas no campo da cultura. “Os grandes processos revolucionários do século XX entenderam que a luta revolucionaria deve estar em todos os lugares ao mesmo tempo, inclusive no terreno das artes, da cultura e da produção simbólica.”
O debate sobre o que é e como produzir uma cultura revolucionaria e uma comunicação contra-hegemônica é um dos centros das discussões da Semana de Cultura do MST no Pará, e é um debate que vem sendo travado há alguns anos pelos Coletivos de Cultura e de Comunicação do MST.
Para Rafael Villas-Bôas, do Coletivo Nacional de Cultura do MST, o Movimento Sem Terra já entendeu que não basta ter acesso a produção cultural e à comunicação. “Nós aprendemos a criticar a industria cultural, mas também estamos aprendendo a tomar providencias contra
ela, no sentido de criar um poder contra-hegemônico”. Rafael lembrou as experiências das noites culturais do V Congresso do MST, realizado em Brasilia, em junho do ano passado, quando não havia apenas um grande palco, reproduzindo a lógica do espetáculo da industria cultural, mas sim vários pequenos palcos onde artistas populares, acampados e assentados da Reforma Agrária dividiam o espaço com artistas profissionais.
Segundo Rafael, o MST tem avançado na estética das suas produções culturais a partir do momento que essas produções assumiram seu papel na luta de classes. “A produção cultural deve estar ligada à estratégia política do MST. Nesse sentido, todo artista do Movimento
deve ser um militante e todo militante pode ser um artista.”
E a cultura popular, pode ser considerada cultura revolucionaria ou contra-hegemônica? Para o professor Alambert, não necessariamente. “O nosso mundo, a nossa pátria, é a nossa classe. Portanto o que nos interessa é uma cultura de classe, independente de onde ela é produzida. Claro que a cultura popular é importante, mas ela não é necessariamente uma cultura de classe, e nem toda cultura popular deve ser preservada e cultuada.”
A Semana de Cultura Brasileira e Reforma Agrária está acontecendo no Centro Cultural Tancredo Neves – CENTUR, em Belém do Pará, e vai até dia 16 de novembro. Além dos debates que acontecem todas as manhãs e das oficinas práticas realizadas na parte da tarde, as noites da
Semana de Cultura do MST são animadas por artistas populares e da Reforma Agrária, com apresentações musicais, teatrais, recitais de poesia e saraus.
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