Manifesto dos Atingidos Pela Rede Globo *
Apenas 6 famílias estão no comando dos principais meios de comunicação no Brasil. Civita, Marinho, Frias, Saad, Abravanel e Sirotsky são os clãs que comandam o oligopólio midiático no País.
Um seleto grupo composto pelas Organizações Globo, Grupo Folha, Grupo Estado, Rede Brasil Sul (RBS) e Companhia Brasileira Multimídia (CBM) é o responsável pela concentração de maior parte de toda a circulação diária de notícias impressas em todo o Brasil, algo em torno de 56% de tudo o que é veiculado de informação impressa e que circula no território nacional.
Não obstante, apenas três estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, são as sedes dessas empresas de mídia.
Uma característica que revela a “vocação” concentradora da estrutura dos meios de comunicação no Brasil é a atuação e a influência marcante de um único conglomerado midiático em âmbito nacional e internacional: a Rede Globo, de propriedade da família Marinho.
O conglomerado é líder com 263 veículos próprios ou afiliados – mais que SBT e Record juntos, em segundo e terceiro lugar, respectivamente.
A Globo detém ainda 33,4% do total de veículos ligados às redes privadas nacionais de TV e controla o maior número de veículos em todas as modalidades de mídia: 61,5% de TVs UHF; 40,7% dos jornais; 31,8% de TVs VHF; 30,1% das emissoras de rádio AM e 28% das FM.
A maioria dos principais grupos regionais de mídia são afiliados da Globo e seu conglomerado é o único presente em todos os tipos de veículos de comunicação. Até 2007, sem contar as afiliadas, a Rede Globo possuía 20 emissoras próprias, apesar de a lei brasileira permitir apenas 10 concessões por operadora.
Naturalmente, a Rede Globo de Televisão abocanha mais da metade do mercado publicitário brasileiro destinado ao meio televisivo, ou seja, quase 80% do total destinado às emissoras de TV aberta, além de liderar os índices de audiência em praticamente todos os horários.
Organizações Globo é o termo usado para denominar o conglomerado de várias empresas brasileiras concentradas especificamente na área de mídia e comunicação. É o maior conglomerado de mídia da América Latina e o terceiro maior do mundo, ficando atrás apenas da The Walt Disney Company e da CBS Corporation.
Criada em 1965 em pleno Regime Militar, cinco anos após entrar no ar, já em 1970, era líder absoluta de audiência. À época, estavam também no ar as Redes Excelsior – que saiu do ar em 1970 – a Tupi – que sairia do ar em 1980 – e a Record e a Cultura, que como a Rede Globo estão no ar até hoje.
A emissora dos Marinho conquistou o espaço deixado pela Excelsior, além de ter recebido a quantia de US$ 5 milhões do Grupo Time Life, para a compra de equipamentos novos e modernos para a época.
Em seus 45 anos de existência, a Rede Globo especializou-se em fazer telenovelas, que são vendidas atualmente para mais de trinta países. Produzidas em vários gêneros, comédias, românticas, atuais e de época, ambientadas no Rio de Janeiro, em São Paulo, no campo, no litoral, as novelas da Globo produzem de imediato fenômenos de "massificação do comportamento", que podem ser verificados de maneira empírica e simples sem necessidades de um protocolo ou estudo experimental.
Alguns críticos também apontam as telenovelas como uma das causas da derrocada do cinema brasileiro desde a década de 1980.
De acordo com o livro “Muito Além do Jardim Botânico, de Carlos Eduardo Lins da Silva”, um dos grandes responsáveis pela liderança de audiência da Globo foi Walter Clark, que entre outras coisas, criou o chamado ‘sanduíche’ na programação, onde entre duas novelas deveria haver um jornal, neste caso o Jornal Nacional, que entrou no ar em 1º de setembro de 1969. Para garantir o Ibope, a novela das 19h tinha um estilo bem leve, quase cômico, e o das 20h, dramático. Estratégia perfeita e que se mantém até hoje.
Para Clark, não bastava ser líder de audiência. Era preciso criar o hábito de assistir a Globo. Coincidentemente, o JN estreou no período de maior endurecimento do Regime Militar, em 1969. O Ministério das Comunicações foi criado neste mesmo ano. O que interessava à ditadura era a chamada “Integração Nacional”. O JN foi o primeiro transmitido em rede. O tom formal e frio, com informações que interessavam diretamente ao regime, deu ao jornal o apelido de “porta-voz da ditadura”.
Uma declaração do então presidente Emílio Garrastazu Médici – o mais autoritário artífice do regime ditatorial sobre a sociedade – deu o tom do que era o JN: “Sinto-me feliz, todas as noites, quando ligo a TV para ler o jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos, em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranqüilizante, após um dia de trabalho.”
Em comprovada associação com a criminalidade da ditadura, a Globo também bancou falsas notícias dos assassinatos de Vladimir Herzog, Fiel Filho, Stuart Angel e centenas de outros opositores ao regime, sempre tendo como verdade os laudos criminosamente falsos do médico parceiro da ditadura, Harry Shibata.
Em 1993, Simon Hartog, documentarista britânico, através do Channel 4, emissora pública do Reino Unido, realiza o filme Beyond Citizen Kane (Muito Além do Cidadão Kane), focado na análise da relação da mídia e o poder no Brasil.
O documentário acompanha o envolvimento e o apoio da Globo à ditadura militar brasileira, sua parceria com o grupo americano Time Warner (naquela época, Time-Life), algumas práticas vistas como manipulação feitas pela emissora de Marinho (incluindo um suposto auxílio dado a uma tentativa de fraude nas eleições fluminenses de 1982 para impedir a vitória de Leonel Brizola, a cobertura tendenciosa do movimento das Diretas-Já, em 1984, quando a emissora noticiou um importante comício como um evento de comemoração ao aniversário de São Paulo, e a edição, para o Jornal Nacional, do debate do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras de 1989, de modo a favorecer o candidato Fernando Collor de Mello (frente a Luís Inácio Lula da Silva), além de uma controversa negociação envolvendo ações da NEC Corporation e contratos governamentais à época em que José Sarney era presidente da República.
A primeira exibição pública do filme no Brasil ocorreria no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), em março de 1994. Um dia antes da estréia, a polícia militar recebeu uma ordem judicial para apreender cartazes e a cópia do filme, ameaçando, em caso de desobediência, multar a administração do MAM-RJ. O secretário de cultura acabou sendo despedido três dias depois.
Até hoje uma decisão judicial proíbe a exibição de Beyond Citizen Kane no Brasil.
O último episódio de ilegalidade cometido pela Rede Globo em conluio com os poderes constituídos na política brasileira veio a tona em janeiro de 2011 quando um deslizamento de terra de grandes proporções deixou mais de 700 mortos na Região Serrana do Rio de Janeiro.
Enquanto os veículos da Rede Globo denunciavam o descaso do governo federal e cobrava mais investimentos para a prevenção de enchentes, a imprensa alternativa tornava público que no dia 20 de outubro de 2010 o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, desviou R$ 24 milhões do FECAM (Fundo Estadual de Conservação do Meio Ambiente) com a finalidade de construção pela Fundação Roberto Marinho do Museu do Amanhã no Cais do Porto no Rio de Janeiro.
Diante dos fatos e de inúmeras outras ocorrências de irregularidades cometidas pela Rede Globo, que aviltam a democracia e mancham a história do próprio jornalismo, ficam as perguntas: é justa a renovação da concessão pública da poderosa TV Globo? Ela ajuda a formar ou a deformar a sociedade brasileira? Ela informa ou manipula as informações? Ela atende os preceitos constitucionais que proíbe o monopólio da mídia e exige que a comunicação social promova a produção da cultura nacional e regional e a difusão da produção independente e que tenha finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas?
É hora de a sociedade brasileira assumir definitivamente uma postura crítica e transformadora da situação em que se encontram os meios de comunicação no País.
Para tanto exigimos:
– A retratação pública da Rede Globo de Televisão diante da sociedade brasileira e principalmente da população do Rio de Janeiro, com conteúdo a ser inserido na grade de programação da emissora com alcance em todo o território nacional.
– Auditoria independente a ser realizada pelo MPF e sociedade civil que reveja as concessões a operadoras que já possuam o limite de concessões permitidas por lei.
– Fim do monopólio da Globo sobre o setor da TV Paga.
– Obrigatoriedade de programas regionais e de produção independente em pelo menos 1/3 da programação diária das emissoras de TV que operam no território Nacional.
– Maior controle da sociedade sobre programas de Reality Shows com conteúdos eróticos, consumistas e de azar, como o Big Brother Brasil e similares que, uma vez produzidos, devem ser exibidos apenas em horários de baixa audiência durante a madrugada.
– A criação de um imposto de contrapartida a ser pago pela Rede Globo e demais Emissoras que operam no Brasil. Que a arrecadação por este mecanismo seja revertida em programas de apoio a iniciativas alternativas e populares de comunicação como as rádios e TVs livres e comunitárias e também na construção de cidades cenográficas em vilas e favelas do Brasil em caráter de compensação de danos e transferência direta de renda aos setores mais explorados quanto marginalizados pelas atuações das redes de comunicação de massa no Brasil.
* Este manifesto não tem autoria. Foi produzido a partir de colagens de textos buscados na internet. Seu conteúdo é livre e está aberto para acréscimos e considerações. Também não carece de assinaturas.
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